Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – Os ativistas angolanos acusados de rebelião pelo governo afirmaram que representam a manifestação dos anseios não saciados do povo angolano. A mensagem lida pela ativista Laurinda Gouveia durante a conferência realizada em Luanda nesta quarta-feira (17), explicou que os acusados são jovens de diferentes níveis de formação, apartidários e partidários; religiosos e ateus, empregados e desempregados.
Laurinda Gouveia destacou que o grupo nasceu sem hierarquias e que deseja se manter nesta postura estratégica. A também feminista explica que os eventos que resultaram na detenção dos seus companheiros, em 20 de junho de 2015, não foram um começo em si, mas parte de um processo de luta, sacrifícios e esforços coletivos de muitos anos.
“A vida é um processo dinâmico e em cada estágio exigem-se novas atitudes e ações diante daquilo que ela nos apresenta”, ressaltou Laurinda no encontro que homenageou todos os ativistas presos em Angola, especialmente o Dago.
Esse movimento representa apenas uma parte da juventude que desperta para as amarras do medo e que toma consciência de si e do seu tempo, em busca da transformação da sociedade para a construção de uma verdadeira nação. Para a ativista, essa ideia de nação verdadeiramente democrática, reconciliada e apostada na sua afirmação de mundo precisa ser autônoma, soberana e vanguardista.
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Questionado sobre a lei da anistia dos crimes comuns, Nelson Dibango esclareceu que há consenso entre todo o grupo que tal preceito não se enquadra no processo.
“Não queremos ser anistiados porque não se pode anistiar inocentes. Somos inocentes. Em um ano não provaram o crime de que somos acusados”, alertou sobre o futuro dos ativistas libertados em 29 de junho.
O jornalista Sedrick de Carvalho, que defende que a liberdade de imprensa é reboque da liberdade de expressão, lembrou que, na sua detenção, estava no grupo como cidadão para fortalecer o seu conhecimento de coberturas jornalísticas a respeito das manifestações em Angola.
“Estive como cidadão porque penso que os angolanos precisam exercer o direito de cidadania que se encontra plasmado na Constituição da República e isso não constitui problema algum”, reforçou.
Sobre a necessidade de se transformar numa força política da oposição ao mais alto mandatário do país (José Eduardo dos Santos), Laurinda Gouveia fez saber que seu grupo não é majoritariamente apartidário e sem liderança, mas que o foco da ação é o exercício pleno da cidadania como meio de participação na vida social e política do país.
Os 17 ativistas reconheceram que a o processo começou com a detenção, na sala de aula do instituto Luandense de Línguas e Informática – ILULA, onde 13 deles se encontravam para uma sessão de debate sobre as formas de lutas não violentas, sustentada pelo manual de Domingos da Cruz “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar nova Ditadura – filosofia política para Libertação”, inspirada em “Da Ditadura à Democracia, do filósofo norte-americano Gene Sharp.
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“Estou aqui para que haja uma democracia participativa ao invés de representativa. Quero deixar claro que também faço parte da luta por isso. Estou cá para ajudar a traçar novas formas de lutas”, disse o ativista Cesário Tchipilia.
Leonora Odeth João, mãe do ativista M´banza Hamza disse que estava impressionada com a forma que o governo do MPLA compreendeu a questão dos jovens organizarem uma conferência tão importante no mesmo dia do seu congresso.
“Antigamente, sairíamos daqui com corridas, feridos e direitos para a prisão. Não sei se esse silêncio é por estarem em atividade, mas sei que a verdade sempre sai na superfície”, contou, sustentando que o governo é o mais medroso de todos.