Líbia: ONU relata violações dos direitos humanos e ‘total impunidade’

0
330
Civis caminham pela rua Trípoli, em Misrata, na Líbia. Foto: ACNUR / Helen Caux
ivis caminham pela rua Trípoli, em Misrata, na Líbia. Foto: ACNUR / Helen Caux

Com informações da ONU

Um relatório das Nações Unidas publicado na última quinta-feira (25) documentou violações e abusos dos direitos humanos “generalizados” cometidos na Líbia desde o início de 2014. O documento recomenda medidas “urgentes” para resolver “a total impunidade que prevalece”, pedindo ainda o fortalecimento e a reforma do poder judiciário.

“Apesar da situação dos direitos humanos na Líbia, o país só aparece de vez em quando no noticiário. Diversos atores sociais – estatais e não estatais – são acusados de violações muito graves e abusos que podem, em muitos casos, ser consideradas crimes de guerra”, disse o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, em um comunicado de imprensa.

Reportagem especial: “A Líbia vivencia um conflito que compromete o seu futuro”

As violações e abusos documentados pelo relatório do Escritório do Alto Comissariado (ACNUDH) dizem respeito a homicídios extrajudiciais, incluindo execuções de pessoas em cativeiro, detidas, sequestradas ou “suspeitas” de serem dissidentes; ataques indiscriminados contra áreas residenciais densamente povoadas; tortura e maus-tratos; detenções arbitrárias; raptos e desaparecimentos; e violência e discriminação contra as mulheres.

ISIL recruta crianças; mulheres ativistas são alvo frequente

Defensores dos direitos humanos, jornalistas, migrantes e crianças estão entre os alvos dos referidos atos. Um dos exemplos documentados pelas Nações Unidas são os casos de recrutamento forçado e uso de crianças nas hostilidades por parte de grupos associados ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL, ou Da’esh).

Tem ocorrido ainda uma série de ataques de grupos armados contra mulheres ativistas desde 2014. O assassinato de ativistas bem conhecidas, tais como Salwa Bugaighis, Fareeha Al-Berkawi e Intissar Al-Hasaeri, e as ameaças, “assédio e agressões alvejando muitos outros parecem destinadas a enviar uma mensagem mais ampla de que as mulheres não devem se mobilizar na esfera pública”, observa o relatório.

Ruas em Trípoli, Líbia – Foto de Natalia da Luz

O relatório recomenda uma “ação” urgente para deter a proliferação de grupos armados através do desarmamento, desmobilização e reintegração, e um programa de veto para remover e prevenir o recrutamento de indivíduos responsáveis por violações dos direitos humanos.

O relatório apela ainda à comunidade internacional para assegurar que o Tribunal Penal Internacional (TPI), que tem jurisdição na Líbia, tenha os recursos necessários para levar a cabo as suas investigações e processos.

Reportagem exclusiva: “Continuarei a lutar como médica, mulher e líbia”

Sugerindo ações prioritárias, a ONU pede que sejam abordados temas como as ameaças de segurança e a administração da justiça, a reforma da Polícia Judiciária, a criação de um programa robusto de proteção de vítimas e testemunhas, o estabelecimento de uma estrutura judiciária especializada dentro dos tribunais líbios para se concentrar em crimes de direito internacional, e a organização de um reunião de alto nível para reunir líbios e parceiros internacionais para discutir iniciativas de aumento da responsabilização na Líbia.

Na frente política, o enviado das Nações Unidas para a Líbia pediu nesta quarta-feira (24) um “passo imediato” para formalizar a aprovação parlamentar de um governo de unidade nacional. Segundo o representante das Nações Unidas, seu lançamento é vital para a paz e a estabilidade no país, que vive uma fase de pós-conflito.