Por André Carlos Zorzi, Por dentro da África
A primeira rodada da Copa Africana de Nações deste ano trouxe diversos resultados inesperados aos fãs do futebol no continente. Sempre fortes, os times do Norte da África foram incapazes de vencer.
A Guiné-Bissau e o Zimbábue, apontadas como as seleções mais fracas do torneio, conseguiram segurar equipes mais fortes, e os atuais campeões da Costa do Marfim esbarraram na frágil seleção togolesa. Por fim, a partida entre Egito e Mali, uma das mais esperadas, acabou decepcionando.
Por outro lado, os craques da competição não decepcionaram. Eleitos os três melhores jogadores do continente em 2016, Sadio Mané (Senegal), Aubameyang (Gabão) e Mahrez (Argélia) marcaram gols e foram decisivos para seus times conquistarem os primeiros pontos.
Confira abaixo tudo o que houve de melhor na rodada inaugural da CAN-2017:
*Melhores jogadores da partida escolhidos pela Confederação Africana de Futebol (CAF)
GRUPO A
Gabão 1 x 1 Guiné-Bissau
Apesar do apoio dos torcedores, que esperavam um jogo fácil na abertura do torneio disputado em casa, o Gabão encontrou um jogo parelho diante do único estreante da competição. Os gols vieram apenas no segundo tempo.
Aos 6’, o gabonês Bouanga, no lado direito da área, recebeu passe vindo de trás. Ele dominou a bola no peito e tentou bater a gol, rasteiro. O chute saiu sem pontaria e estava indo para fora, quando Aubameyang, desmarcado e bem posicionado, concluiu para abrir o placar. 1 x 0.
A Guiné-Bissau, porém, não se amedrontou. De acordo com o site da CAF, a equipe teve mais chutes (11 x 7) e menos faltas cometidas (14 x 24) que os donos da casa.
Aos 39’, uma prévia do que viria a seguir. Após cobrança de falta próxima ao meio-campo, a bola foi cruzada na área gabonesa. O guineense Mendy, na entrada da pequena área, cabeceou a bola para boa defesa do goleiro Ovona.
Aos 44’ e meio, quase nos acréscimos para o fim do jogo, Kanga parou com falta um lance próximo ao meio-campo. Zezinho partiu para a cobrança e lançou a bola para o ataque. Na entrada da pequena área, o defensor Juary concluiu de cabeça, empatando a partida. 1 x 1.
Ao término da partida, três minutos depois, muita comemoração por parte dos atletas da Guiné-Bissau, que viram no empate um bom resultado, especialmente dadas as circunstâncias.
Outro lance que chamou atenção no jogo foi a demonstração de habilidade do meio-campista guineense Santos, que aplicou uma caneta entre as pernas de Lemina em lance próximo à lateral de campo.
Melhor da partida: Zezinho (Guiné-Bissau)
Camarões 1 x 1 Burkina Faso
Em jogo marcado pelo equilíbrio e com as duas equipes buscando o gol, os lances de bola parada acabaram sendo decisivos para a definição do placar.
Em cobrança de falta frontal para Camarões, aos 34’, nove atletas burquinenses se dispuseram nas proximidades da barreira, na marca do pênalti, além do goleiro, e apenas um camaronês. Outros sete jogadores do Camarões ficaram nas proximidades da entrada da área. Todos, porém, ficaram parados ao ver a bola de Moukandjo viajar pelo ar para estufar as redes e abrir o placar. 1 x 0.
O empate veio apenas na segunda etapa, aos 29’. Em falta ofensiva para a Burkina, Diawara cobrou pela esquerda. A bola foi em direção ao gol, para uma desesperada defesa de Ondoa, que rebateu para a pequena área e ficou caído no chão. O defensor burquinense Koné tentou cabecear a gol, sem sucesso. Porém, Dayo, também de cabeça, desviou a trajetória da bola para as redes e deu números finais à partida. 1 x 1.
Melhor da partida: Alain Traoré (Burkina Faso)
GRUPO B
Argélia 2 x 2 Zimbábue
Logo aos 12’, o argelino Mahrez surgiu em jogada pela direita. Entrou na grande área e, ao ver três defensores se aproximando, deu um chute forte e seco para o gol, sem chances de defesa para o goleiro Mkuruva. 1 x 0.
Com o encontro entre uma seleção cotada ao título, e outra inexperiente em grandes competições, a expectativa por uma goleada aumentou com o gol precoce. O que veio a seguir, porém, surpreendeu a todos. Os zimbabuanos não se abalaram em sair atrás e correram em busca de uma reação.
Aos 16’, um jogador zimbabuano se esforçou para tocar a bola para Mahachi, na entrada da grande área, pela esquerda. O jogador chutou rasteiro, de perna esquerda, no contrapé do goleiro M’Bolhi, empatando a partida. 1 x 1.
Na sequência, o Zimbábue continuou criando novas chances de gol. Aos 27’, Bhasera conseguiu boa jogada pela esquerda, e tentou entrar em velocidade na área rival. O argelino Belkhiter pôs o pé à sua frente e o derrubou em lance praticamente em cima da linha. O árbitro etíope Weyesa assinalou o pênalti.
Mushekwi partiu para a cobrança. O goleiro M’Bolhi caiu para a esquerda, no centro do gol. O zimbabuano chutou rasteiro, no lado inverso e virou o jogo. 2 x 1.
Na etapa complementar, o Zimbábue se focou nos contra-ataques, enquanto a Argélia buscava diminuir o prejuízo. Em um deles, aos 7’, a defesa conseguiu desarmar um lance ofensivo argelino e tocar a bola rapidamente para o atacante Billiat, em boa posição, depois do meio-campo. Ele partiu em velocidade, marcado a meia distância apenas por Mandi. Ao entrar na área, tentou driblá-lo, em vão. Na sequência do drible falho, porém, conseguiu recuperar a bola e efetuou um belíssimo chute, para defesa milagrosa de M’Bolhi.
Aos 17’, um lance bizarro. Após cruzamento feito pela Argélia, que não tinha nenhum jogador em boa posição na área, o zagueiro zimbabuano Muroiwa tentou afastar, mas pegou mal na bola e encobriu o goleiro, que ainda tentou defender, em vão. Para sua sorte, porém, ela bateu na forquilha da trave e foi para fora.
Aos 35’, a habilidade de Mahrez apareceu novamente. O jogador recebeu passe pela zona central da intermediaria ofensiva. Não se importou com a marcação e carregou a bola até a entrada da área, pela esquerda, quando conseguiu encaixar outro bom chute e empatar a partida, em lance que contou com falha do goleiro. 2 x 2.
Ao final da partida, a CAF computou 22 chutes para a Argélia, sendo dez a gol. Os zimbabuanos chutaram metade das vezes, 11. Porém, oito foram à meta.
Melhor da partida: Riyad Mahrez (Argélia)
Senegal 2 x 0 Tunísia
Aos 8’, o tunisiano Sliti errou passe no meio-campo, e Sadio Mané conseguiu interceptar. Kouyaté pegou a sobra e tocou de volta para Mané, que saiu disparando em contra-ataque. Pouco antes de chegar à grande área, pela direita, ele passou a bola para Kouyaté prosseguir com o lance. Dentro da área, quando chegava à bola, foi derrubado por uma forte rasteira de Abdennour. Penalidade máxima para o Senegal.
Mané partiu para a cobrança, mandando no canto esquerdo do gol. O goleiro Mathlouthi caiu no canto oposto, e o placar foi aberto. 1 x 0.
Ainda no primeiro tempo, aos 30’, escanteio pela direita para o Senegal. Após a cobrança, o zagueiro Mbodji subiu mais alto que todos dentro da grande área e cabeceou para amplicar. 2 x 0.
A Tunísia ainda buscou a reação pelo jogo inteiro, mas não foi capaz de chegar ao gol. De acordo com a CAF, a equipe do Norte teve 17 chutes, diante de oito dos senegaleses, mas apenas quatro foram em direção à meta.
Melhor da partida: Abdoulaye Diallo (Senegal)
GRUPO C
Costa do Marfim 0 x 0 Togo
Na reedição da estreia das duas equipes na Copa Africana de Nações de 2013, quando os marfinenses saíram vitoriosos por 2 x 1 em um jogo parelho, o equilíbrio marcou presença novamente, com as melhores chances de ambas as equipes surgindo ainda no primeiro tempo.
Aos 9’, Kalou apareceu pela esquerda no campo ofensivo marfinense, driblou dois togoleses e deu excelente passe para Kodjia adentrar a área em velocidade. Mesmo se desequilibrando, o jogador conseguiu chutar, para ótima defesa do goleiro Agassa.
Aos 28’, foi a vez dos togoleses: Bebou apareceu pela esquerda e deu passe em profundidade para Dossevi, que penetrou na grande área e ficou frente a frente com o arqueiro Gbohouo. Porém, ele demorou para chutar e facilitou a defesa.
No segundo tempo, o lance que chamou mais atenção foi um cabeceio de Kodjia, após receber a bola sozinho, dentro da área togolesa, aos 9’. O jogador estava em posição de impedimento.
Enquanto Togo se contentava com o empate diante dos campeões vigentes, a Costa do Marfim, que criava mais lances ofensivos, pecava na falta de pontaria de seus atacantes. Os togoleses também propiciaram diversos lances de perigo marcando faltas nas proximidades de sua área.
Melhor da partida: Lalawelé Atakora (Togo)
Congo-Kinshasa 1 x 0 Marrocos
Os números da partida podem dar uma ideia do que foi o jogo. De acordo com a CNN, o Marrocos teve mais que o triplo de chutes (15 x 4) e o quádruplo de escanteios (9 x 1) em relação aos congoleses, além de maior posse (62% x 38%).
O gol da partida surgiu aos 10’ do segundo tempo. Após um lateral, Mubele conseguiu boa jogada pela esquerda e cruzou a bola. Sem querer, quase marcou o gol: ela chegou a passar em cima da linha, e numa tentativa falha de defesa, o goleiro Munir rebateu para a entrada a pequena área, onde estava Kabananga, que teve apenas o trabalho de concluir. 1 x 0.
Aos 20’, um momento que mudou a partida: o técnico Florent Ibengé colocou o reserva Mutambala em campo. Nove minutos depois, o jogador recebia um cartão amarelo. Aos 36’, cometeu nova infração e acabou expulso de campo.
Para piorar as coisas, o capitão congolês, Zakuani, se machucou e foi tirado de campo, aos 38’. Ele retornaria apenas nos acréscimos, deixando sua equipe com dois jogadores a menos em campo por quase dez minutos.
O Marrocos esteve melhor na partida em diversos momentos, e buscou o empate a todo custo, especialmente nas tentativas do atacante El-Arabi. Porém, não foram capazes de reverter o placar.
Melhor da partida: Mbark Boussoufa (Marrocos)
GRUPO D
Gana 1 x 0 Uganda
Curiosamente, os ganeses haviam sido os últimos adversários da Uganda em uma CAN, há 39 anos, na final do torneio de 1978. Tal como em 2017, os ganeses saíram vitoriosos naquela ocasião, ganhando por 2 x 0 e levantando a taça de campeões.
O único gol da partida foi marcado em cobrança de pênalti. Aos 30’, o defensor ugandense Isinde “abraçou” Gyan Asamoah dentro da grande área, impedindo que o atacante desse prosseguimento à jogada. Penalidade marcada e cobrada por André Ayew, com firmeza, no centro do gol. 1 x 0.
Pouco depois, o lateral-esquerdo ganês Baba Rahman precisou ser substituído de campo, com uma lesão no joelho, e é dúvida para as próximas partidas.
Ainda no primeiro tempo, veio a melhor chance de Uganda na partida: em contra-ataque, Farouk Miya recebeu a bola na entrada da área, em velocidade. Aproximou-se do gol, pela direita e chutou forte, na trave.
No segundo tempo, Gana ainda conseguiu criar algumas boas chances, principalmente com as jogadas de Atsu, mas esbarrou no mal posicionamento de seus atacantes, que geraram seis lances em posição de impedimento nos 45 minutos finais. Pelo lado de Uganda, o próprio Miya continuava responsável por criar novas tentativas de empate, e a equipe chegou a dar certo sufoco nos ganeses, que souberam se defender até os minutos finais, quando aproveitaram de seu melhor condicionamento para segurar a marcação e encaixar alguns contra-ataques.
De acordo com os números da CAF, Uganda se saiu melhor na quantidade de chutes totais (11 x 10) e chutes a gol (6 x 5).
Melhor da partida: Christian Atsu (Gana)
Egito 0 x 0 Mali
Jogo de mais “peso” da primeira rodada, acabou decepcionando pela qualidade técnica.
O Mali abusou dos cruzamentos à área para criar a maior parte de suas oportunidades, enquanto o Egita buscava trabalhar mais a bola no chão. De acordo com a CAF, os malineses tiveram mais chutes (11 x 7), apesar de menos terem ido em direção à meta (3 x 2) em relação aos egípcios.
Aos 12’, Marega cruzou a bola pela esquerda, próximo à lateral. Na linha da pequena área, Lassana Coulibaly tentou o cabeceio e apenas resvalou na bola. Mesmo assim, El Shenawy precisou se esticar para realizar ótima defesa.
A melhor chance egípcia veio somente no segundo tempo, aos 7’ em contra-ataque. Trezeguet apareceu pela esquerda e cruzou para Mohsen, que chegava em velocidade, cabecear próximo à marca do pênalti. O goleiro Sissoko fez ótima defesa.
Aos 21’, Mohammed Salah entrou com a sola da chuteira no tornozelo de Sylla, em disputa de bola na intermediária de defesa malinesa. O árbitro deu apenas cartão amarelo.
O grande momento da partida, porém, foi a quebra do recorde de jogador mais velho a entrar em campo numa Copa Africana de Nações. Aos 22’ do primeiro tempo, El Shenawy sentiu uma lesão e precisou ser substituído. O goleiro egípcio Essam El Hadary, aos 44 anos de idade e com mais de duas décadas de experiência, entrou em seu lugar e participou de lances importantes na partida.
Melhor da partida: Moussa Maréga (Mali)
CLASSIFICAÇÃO:
GRUPO A
1º – 1 ponto – Gabão
1º – 1 ponto – Guiné-Bissau
1º – 1 ponto – Camarões
1º – 1 ponto – Burkina Faso
GRUPO B
1º – 3 pontos – Senegal
2º – 1 ponto – Zimbábue
2º – 1 ponto – Argélia
4º – 0 ponto – Tunísia
GRUPO C
1º – 3 pontos – Congo-Kinshasa
2º – 1 ponto – Costa do Marfim
2º – 1 ponto – Togo
4º – 0 ponto – Marrocos
GRUPO D
1º – 3 pontos – Gana
2º – 1 ponto – Egito
2º – 1 ponto – Mali
4º – 0 ponto – Uganda
Confira os jogos da 2ª rodada:
Quarta-feira (18/jan):
Gabão x Burkina Faso
Camarões x Guiné-Bissau
Quinta-feira (19/jan):
Argélia x Tunísia
Senegal x Zimbábue
Sexta-feira (20/jan):
Costa do Marfim x Congo-Kinshasa
Marrocos x Togo
Sábado (21/jan):
Gana x Mali
Egito x Uganda