A circuncisão feminina é uma prática registrada em 28 países africanos e um ornamento que é parte da cultura. Diante das consequências para a saúde física e psicológica da mulher, um grupo da sociedade se levanta para erguer a bandeira do direito de abandonar essa tradição. Outro defende o costume como forma de pertencimento. Com o objetivo de esclarecer sobre a prática e de contribuir com o trabalho da Organização Safeway Womanhood, que cuida de uma comunidade de refugiados, principalmente crianças e mulheres, o Por dentro da África convida o público em geral para participar da campanha e disseminar informação sobre o tema.
Apoie a causa e receba um calendário informativo
Utilize os botões acima para concretizar o seu apoio. Você será direcionado para uma página segura com possibilidade de pagamento com sua conta (PayPal ou PagSeguro) OU cartão de crédito.
Atenção: os botões acima são exclusivos para entrega em todo território nacional com frete grátis.
Utilize os botões acima para concretizar o seu apoio. Você será direcionado para uma página segura com possibilidade de pagamento com sua conta (PayPal ou PagSeguro) OU cartão de crédito.
Atenção: botões exclusivos para entrega internacional com frete fixo (R$ 20,00).
Ao adquirir o calendário com fotos e informações sobre a prática, o leitor contribuirá com o trabalho (compra de medicamentos, macas, soro e vacinas, por exemplo) da Safeway Womanhood dedicada, principalmente, à saúde reprodutiva e a educação em relação à circuncisão feminina. Todo o lucro com a venda do calendário será destinado à organização sediada em Eastleigh, na cidade de Nairóbi, no Quênia. Mais do que uma campanha de doação para apoiar o trabalho da organização é uma campanha de conscientização sobre a prática. Toda a prestação de contas será atualizada no fim desta página!
Depoimento de Natalia da Luz, fundadora do Por dentro da África
– A temporada na região foi de extremo crescimento pessoal. Havia pesquisado bastante sobre o tema, mas a convivência me trouxe um aprendizado difícil de mensurar. A cada conversa, deixava claro que não tinha o propósito de julgar. Eu queria aprender, ouvir as motivações das mulheres que defendem a prática e as críticas de quem condena o costume hoje, em 2015. Esse tema é muito delicado porque tem motivações religiosas, culturais. Existe um respeito muito forte à tradição, aos costumes passados de geração para geração. Eu fui muito cuidada e respeitada e como sinal de amizade, fui convidada a assistir a um ritual. Fiquei muito abalada, mas agradecida pela consideração. Além de aprender bastante sobre o tema, eu pude perceber o quanto é importante a interação entre os grupos que defendem e os que condenam a prática. Não acho muito respeitoso e útil que movimentos externos interfiram de forma autoritária. Com informação, acredito que a própria comunidade deve se questionar sobre seus costumes e que qualquer movimento de mudança deve ser alimentado pela reconciliação, pelo respeito.
Trabalho de campo em Eastleigh
Eastleigh é conhecida como Little Mogadíscio (Mogadíscio é o nome da capital da Somália) pela quantidade de somalis. Vale ressaltar que o termo somali não está apenas ligado à nacionalidade, ele diz respeito a um grupo étnico que habita o Chifre da África, incluindo Somália, Etiópia, Quênia e Djibouti.
O bairro foi fundado em 1921 e funcionava como um centro para os asiáticos e africanos de elite que trabalhavam como construtores ou sapateiros, por exemplo. Eastleigh era, originalmente, um grande enclave asiático queniano até a independência da Inglaterra, em 1963. Nos últimos anos, o bairro foi dominado e quase exclusivamente habitado por imigrantes somalis.
Muitos dos moradores daqui, principalmente as mulheres, não têm condições de ir ao hospital (mesmo o público, já que são refugiados) e justamente por isso o trabalho da organização é de extrema relevância.
Sobre a circuncisão feminina
Em 1997, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) emitiram uma declaração conjunta sobre a Mutilação Genital Feminina que descreveu as implicações da prática como abusiva para a saúde pública e os direitos humanos. No Quênia, assim como em muitos países da África, há leis que proíbem a prática, mas ainda há muita dificuldade de implementação.
De acordo com a OMS, a prática afeta mais de 130 milhões de mulheres e meninas em todo o mundo. A cada ano, estima-se que mais de três milhões de meninas corram o risco de serem submetidas à prática. A maior prevalência de circuncisão feminina em todo o mundo é entre as mulheres somalis. Segundo relatórios da OMS, esse percentual é de 98%.
Conheça os tipos
O tipo I é caracterizado pela excisão do prepúcio do clitóris e possível redução do mesmo.
O tipo II é chamado de excisão e consiste na retirada total do clitóris e, algumas vezes, remoção parcial ou total dos pequenos e grandes lábios.
O tipo III é conhecido como circuncisão faraônica ou infibulação e consiste na extirpação do clitóris, dos grandes e pequenos lábios. Após esse procedimento, a vagina é costurada com agulha e linha ou com bush thorn (uma planta com um enorme espinho encontrada nas áreas rurais) deixando um espaço mínimo para a saída da urina e do fluxo menstrual.
Há ainda o tipo IV, usado para agrupar todas as outras modalidades de alteração da genitália.
Saiba mais em nosso especial aqui – “Se a cultura fere o seu corpo, por que preservá-la?”
Campanha
Esta campanha é uma iniciativa do Por dentro da África e faz parte de um trabalho de campo da jornalista Natalia da Luz em Eastleigh, no Quênia, no ano de 2013. Dezenas de entrevistas em swahili, somali e inglês foram realizadas para a pesquisa sobre circuncisão feminina para a conclusão da pós-graduação em História e Cultura Afrodescendente, na PUC Rio. Além do trabalho de conclusão de curso com especialização em antropologia, a jornalista produziu artigos, reportagens, vídeos e um documentário (em edição).
Quem é Fradhosa Mohamed?
No primeiro andar de sua casa, Fardhosa Mohamed, uma somali de 51 anos criou, em 2003, a Safeway Medical Clinic, uma pequena clínica de seis salas em uma comunidade de refugiados de Nairobi. Esses moradores tiveram que deixar seus respectivos países por motivos de crise econômica, conflitos sociais ou perseguição política e encontraram em Eastleigh um lugar para viver entre conterrâneos.
Em meio à precariedade da clínica, que sobrevive de doações (de pessoas e de organizações), Fardhosa provoca uma verdadeira revolução ratificando que a vontade é a ferramenta transformadora de que o mundo precisa. Com uma equipe de 12 auxiliares, ela coordena campanhas de vacinação semanais, faz partos, realiza simples operações (principalmente em mulheres que tiveram complicações por conta da circuncisão) e cuida de problemas como inflamações, malária e diarreia. Esse trabalho incansável e louvável realizado em uma comunidade repleta de vulnerabilidades pode ter o seu apoio.
Como missão de vida, Fardhosa também optou por combater a prática da circuncisão feminina. Respeitada pela comunidade, a ativista acredita que a melhor arma é a informação.
Depoimento Fardhosa Mohamed
– O nosso foco é nas mães e crianças, mas atendemos e fazemos o que estiver ao nosso alcance para cuidar de qualquer um. Nós também montamos campos de atendimento em diferentes áreas da comunidade para ir ao encontro dessas mulheres que, de alguma forma, ainda sofrem com as consequências da circuncisão feminina. Todos nós sabemos que isso acontece em todos os lados. Muitas vezes, a mãe vai até preferir ir para a cadeia (já que a prática é punida por lei) em vez de deixar a sua filha livre da circuncisão. O melhor que temos a fazer é mostrar as consequências e dizer que isso não está na religião! Se um costume fere o seu corpo, por que defender essa cultura?
Leia mais: A circuncisão feminina é um crime que clama por justiça, diz Waris Dirie
As fotos foram tiradas por Natalia da Luz em Eastleigh, Quênia.
POR DENTRO DA ÁFRICA
Por Dentro da África é um site dedicado aos africanos. Não tem fins lucrativos ou interesses políticos. Nasceu da paixão da idealizadora, Natalia da Luz, e da experiência de coberturas jornalísticas que ela viveu no continente. A ideia é compartilhar as riquezas da África, defendendo causas legítimas e colaborando para o desenvolvimento de um mundo melhor.
SAFE WOMANHOOD
Safe Womanhood é uma organização que cuida de refugiados. Na maioria, vítimas de zonas de conflito e violência, vindas da Somália e da Etiópia. Fundada por Fardhosa Mohamed, a instituição fica localizada em Eastleigh, no Quênia, e atende crianças e mulheres submetidas à circuncisão feminina. Os programas incluem vacinação e reprodução saudável.