Natalia da Luz, Por dentro da África
Nesta semana, Gana elegeu seu novo presidente. Nana Akufo Addo venceu com 54% dos votos e superou o atual presidente John Dramani Mahama, que tentava a reeleição. O dia 7 de dezembro marcou a sétima eleição democrática desde 1992, e reforçou a tradição de alternância e transferência pacífica do mais importante posto do país.
-Nesta última eleição, Gana consolida sua posição de referência democrática não só na África Ocidental, mas em toda a África. O próximo 7 de janeiro, quando tomar posse o novo presidente, será a terceira vez que se faz, pacificamente, a transferência de poder entre diferentes partidos políticos – disse, em entrevista ao Por dentro da África, a embaixadora brasileira Irene Vida Gala, que vive no país há cinco anos.
A transição estável no país de 27 milhões de habitantes é exemplo para nações africanas que, neste momento, passam por instabilidade política, como Gâmbia (o atual presidente, Yahya Jammeh, que estava no poder há 22 anos, não reconheceu o resultado – sua derrota – das eleições do último dia 2) e República Democrática do Congo (que suspendeu as eleições que deveriam ocorrer no dia 19 de dezembro. O atual presidente, Joseph Kabila, está no poder há 10 anos).
Diferentemente de Gâmbia, em Gana, o presidente Mahama reconheceu a derrota, lembrando, inclusive, que esta é a primeira vez na história do país que um presidente no cargo e candidato à reeleição perde as eleições.
“No domingo, inaugurei uma equipe de transição conjunta para iniciar o processo de uma suave transição, entregando a governação do nosso amado país, Gana, ao presidente eleito Akufo Addo”, disse Mahama em sua página no facebook.
Irene conta que observadores europeus e estadunidenses e autoridades africanas, como o ex-presidente Thabo Mbeki (chefe dos observadores dos países da Commonwealth) e o ex-presidente Pohamba, da Namíbia (chefe dos observadores da União Africana), acompanharam as eleições.
-Os ganenses deram um show de cidadania graças à eloquente participação das instituições e grupos da sociedade civil na observação não só das eleições, mas de todo o processo eleitoral – disse Irene, elogiando o engajamento da sociedade civil em todas as campanhas pela realização de eleições pacíficas.
Dramani Mahama
Mahama tomou posse em 24 de julho de 2012, após a morte do então presidente John Atta Mills. Em dezembro do mesmo ano, ele venceu as eleições, derrotando Nana Akufo-Addo, que, agora, será seu sucessor.
O atual presidente é também historiador e escritor. Seu livro de estreia foi “Meu primeiro golpe de Estado”. Na obra, ele conta que, aos sete anos, assistiu ao seu primeiro golpe de Estado. Com a deposição do líder da independência de Gana, Kwane Nkrumah, todos os políticos próximos do presidente foram banidos, inclusive o pai de Mahama, um dos ministros de Nkrumah.
Do golpe (em 1966) até 1982, fim do período militar, Gana vivenciou o período chamado de “décadas perdidas” (por conta de guerras civis, migrações e crises econômicas no continente africano).
-Os analistas locais ainda estão buscando um consenso sobre as razões da derrota, mas dizem ter sido determinante a crise econômica que mantém cerca de 45% da população jovem desempregada. Em um universo de quase 16 milhões de eleitores, 1,6 milhão votaram pela primeira vez. Especula-se que esses eleitores jovens, metade desempregada, foram decisivos para a derrota de Mahama – disse Irene, completando que o índice de não-comparecimento às urnas – 31,3% – foi maior do que em anos anteriores.
Outro fator mencionado pela embaixadora é a tradição no país de haver uma troca no comando a cada oito anos. Embora estivesse concorrendo a um segundo mandato, Mahama representava o terceiro mandato em sequência para o seu partido – o NDC (National Democratic Congress).
“De olho na África”, por Irene Vida Gala
-Gana também tem a tradição do bipartidarismo. O partido do candidato que ficou em terceiro lugar, com 1% de votos, não terá nenhum representante no Parlamento. A candidatura de Nana Konadu Rawlings (0,16%) também não teve expressão, apesar de ter sido reconhecida por marcar a presença feminina nas eleições – completa Irene.
Para compreender um pouco mais sobre o progresso do país, considerado berço do pan-africanismo, Por dentro da África foi à Acra. Assista ao vídeo: