Natalia da Luz – Por dentro da África
Rio – Grupos que atravessam fronteiras para implantar um programa social praticam o ato da troca, que favorece tanto o visitante, que também desenvolve habilidades, quanto o visitado que é apresentado a um novo cenário. Esse convívio proporciona à comunidade tirar proveito do seu próprio cotidiano, superando as fragilidades. Em maio, uma organização de Oeiras deixou Portugal com destino a Moçambique para praticar esse exercício, capacitando mulheres e crianças com programas nas áreas da educação e saúde.
– No total, atendemos mais de 2500 crianças e 300 professores. Foram 30 dias entre 10 províncias de Moçambique, uma das regiões que temos trabalhado com ênfase devido aos pedidos que recebemos dos parceiros locais – conta, em entrevista ao Por dentro da África, Teresa Maia, fundadora da ONG Estímulo, que desenvolve projetos sociais em Portugal e em países africanos de língua portuguesa.
Teresa explica que o nome Estímulo vem da filosofia de intervenção, do incentivo que todos precisam para avançar, para vencer a inércia de muitos momentos. E é essa força, essa semente, que ela leva para o continente africano.
– Da missão de 2012, onde visitamos 6 províncias, cresceu a vontade em retornar com um trabalho mais direcionado, priorizando parcerias e a permanência do programa. A nova visita aconteceu com muito mais infraestrutura. De 2 pessoas em 2012, a ONG reuniu 20 voluntários de diversos perfis profissionais neste ano – completou a portuguesa que criou a ONG há 10 anos, mas que trabalha com voluntariado há muito mais tempo.
Na área da educação, mais de 2500 crianças foram atendidas, participando de atividades lúdicas e ateliers de artes plásticas. Elas receberam material de doação para as atividades escolares como cadernos, livros e dicionários. Os professores também estiveram no foco do projeto participando de workshops de apoio pedagógico e técnicas de dinamização de grupos.
– Na área da saúde, os programas foram de nutrição materno-infantil, combate à malária e prevenção de HIV, com distribuição de medicamentos. E ainda na área esportiva, conseguimos reunir mais de 30 organizações para torneios, oficinas de bodyboard e surf – detalha orgulhosa, enumerando algumas das regiões atendidas: Gorongoza, Chimoio, Beira, Pemba, Maputo e Nampula.
Teresa lembra que o objetivo da visita a Moçambique também era a identificação de parceiros locais para desenvolvimento e a permanência de projetos iniciados pelos voluntários, que ofereceram o seu mês de férias para o trabalho.
– O número de voluntários envolvidos foi maior, o que aumentou a proporção das nossas ações e deixou um legado muito positivo – detalha a doutoranda em Sustentabilidade Social pela Universidade Aberta, em Lisboa.
Primeira intervenção
A primeira grande intervenção da Estímulo foi em uma nação lusófona, mas um pouco longe da África. De Portugal, os voluntários levaram para o Timor Leste, um dos países mais jovens do mundo, localizado na Ásia, alternativas e soluções para situações que precisavam mudar. Teresa explica que “Rostos de Esperança”, realizado em Caibada, Baucau, no ano de 2006, foi um projeto educativo com a qual, durante dois anos, eles trocaram correspondência enviando materiais escolares.
– Essa escola tornou-se referência na região graças ao nosso programa! Além do Timor, concluímos projetos em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e, agora, em Moçambique. O Programa de Voluntariado Internacional (PIV) que desenvolvemos visa exatamente o alargamento para outros países – explica Teresa, que, por ano, participa de três ou quatro iniciativas como essa.
Hoje, ela se concentra em estabelecer prioridades para o próximo ano com intervenções no âmbito da saúde, educação, esporte e cultura. Até o final de 2013, ela garante que lançará, em Portugal e Moçambique, o livro de fotografias da missão que aconteceu em maio deste ano.
Como missionária, ela também foi ao Marrocos, localizado na África do Norte – um cenário bem diferente da África Subsaariana, onde está Moçambique.
– Não era uma missão de identificação de parceiros, mas de distribuição de materiais escolares para escolas muito isoladas – relembra, destacando a relevância dessas parcerias (doadores privados ou empresas que apóiam em gêneros e serviços para dar continuidade aos projetos).
Acompanhamento de Portugal
Em Oeiras, a organização apoia atividades em comunidades carentes como o transporte de bebês até consultas médicas, quando seus pais não têm condições financeiras de levá-los. Outra ação, desta vez voltada para a educação, é a realização do Congresso Infanto-Juvenil sobre Sustentabilidade.
– Apenas em 2010, reunimos mais de 600 crianças entre 3 e 14 anos para debater e compreender melhor o que significa a sustentabilidade em nossa sociedade! Isso foi um grande sucesso.
O ano Internacional da Agricultura Familiar em 2014 será o lema do trabalho de Teresa por conta de sua abrangência e urgência dessa temática na África. Com as ações, Teresa acredita que as novas gerações serão a mudança, e que, só apostando neles veremos alterações e melhora.
– A esperança e a verdade com que vivemos os nossos projetos nos leva muito mais longe do que pensávamos. É por isso que sentimos que temos uma responsabilidade acrescida para com todos os cidadãos do mundo, particularmente com as crianças.
Para conhecer os programas da organização, visite o site
Por dentro da África