Portugal: Exposição celebra herança africana em obras de 13 artistas

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Afro Renaissance – Foto de Afrikanizm

Com informações do Afrikanizm

Até o dia 9 de agosto, a exposição Afro-Renaissance – Entre o Legado e as Transformações apresenta um espaço de trânsito entre aquilo que herdamos e o que ousamos imaginar. Em exibição no Seixal, região metropolitana de Lisboa, esta mostra coletiva reúne 45 obras de 13 artistas de Angola, Cabo Verde, Nigéria e São Tomé e Príncipe, convidando o público a mergulhar em uma experiência marcada pela multiplicidade de olhares e pela reinvenção da memória africana.

A curadoria organiza o percurso expositivo em três núcleos – Entre corpo e símbolo, Corpo sonhado, corpo desfeito e Reescrever o visível – nos quais os artistas trabalham com colagem, pintura, fotografia e materiais simbólicos para ressignificar o corpo negro, o arquivo histórico e os imaginários coletivos.

Corpo como gesto, rito e resistência

No núcleo Entre corpo e símbolo: presenças incontidas, artistas como António Ole, Blackson Afonso, Casca, Adilson Vieira, Micaela Zua e Júnior Jacinto evocam o corpo negro como gesto, arquivo e força. Longe do exotismo ou da normatividade, essas obras reconfiguram o corpo como máscara, dança, infância ou ritual – presenças vivas, em constante movimento. A cor torna-se linguagem e a linha traça a tensão entre a intimidade e a coletividade.

Já em Corpo sonhado, corpo desfeito, artistas como ZAN, Sapate e novamente Júnior Jacinto exploram a zona entre o humano e o onírico. As figuras, distorcidas ou multiplicadas, abrem portas ao delírio, ao mito, ao simbólico. Há uma energia crua que atravessa essas obras – olhos que emergem do caos, máscaras que revelam, gestos entre o humor e o sagrado –, revelando a complexidade híbrida do corpo negro e rejeitando qualquer leitura simplista.

Por fim, Reescrever o visível: o arquivo como lugar de imaginação propõe uma outra relação com o passado. Lino Damião, Sanjo Lawal, Uólofe Griot, Amadeo Carvalho, Nelo Teixeira, René Tavares e novamente Blackson Afonso apresentam obras que não conservam o arquivo, mas o reinventam. A fotografia, a colagem e os símbolos são usados para subverter a memória histórica colonial, transformando o arquivo em campo aberto para invenção, ruptura e ressignificação.

Uma plataforma de arte e afirmação africana

Promovida pela Afrikanizm Art, plataforma fundada em 2021 dedicada à arte contemporânea africana, a exposição reforça a missão de amplificar as vozes e as histórias dos criadores africanos, tanto no continente como na diáspora. A Afrikanizm, que hoje representa mais de 200 artistas de 16 países africanos, vem se consolidando como uma referência na promoção de artistas africanos, conectando criadores, colecionadores e apreciadores em todo o mundo.

A mostra conta com a parceria da galeria internacional This is Not a White Cube, sediada em Lisboa, e com o apoio da Câmara Municipal do Seixal, que já havia acolhido outra exposição da Afrikanizm — Black Lies Matter — no início deste ano, com mais de 2.800 visitantes de diferentes nacionalidades.

Em tempos de urgência política, apagamentos históricos e reinvenções identitárias, essa exposição propõe um espaço vivo, onde o passado não é um fardo, mas matéria pulsante. Onde o corpo não é objeto, mas presença. Onde o arquivo não é memória estática, mas reinvenção permanente.

Serviço:
Data: De 29 de Julho a 9 de agosto
Local: Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, Seixal, Lisboa, Portugal
Quando: De terça-feira a sábado, das 10h00 às 17h00
Valor: Gratuito

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