A chave para aproveitar o futuro da inteligência artificial na África

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Foto de Roman Odintsov – Pexels

Com infornmações de Mo Ibrahim Foundation

O crescimento populacional da África e os rápidos avanços tecnológicos representam uma oportunidade transformadora para o continente. À medida que a inteligência artificial (IA) remodela o cenário global, a população jovem africana está prestes a se tornar uma força motriz nessa revolução. Para desbloquear todo esse potencial, a África precisa de infraestrutura crítica, investimento em capital humano e uma visão estratégica que coloque seus jovens inovadores na linha de frente.

Dois líderes da nossa Now Generation Network compartilham suas visões sobre o que será necessário para, de fato, aproveitar o poder da IA para o futuro da África.

A perspectiva de Mike Mpanya: A África pode liderar a revolução da IA?

O bônus demográfico da África pode impulsionar um “boom” econômico — mas isso exige três pilares essenciais: infraestrutura, educação e saúde. A tecnologia sempre foi a base da transformação, mas a história mostra que o verdadeiro progresso ocorre quando a tecnologia é moldada por quem a utiliza. IA feita para a África, por africanos, pode transformar o continente ao focar na solução de desafios locais e únicos.

A infraestrutura tem sido, por muito tempo, a peça que faltava nesse quebra-cabeça — mas mudanças estão em curso. A IA está promovendo a integração regional, apesar das lacunas estruturais, ao otimizar logística, comércio e finanças. Ferramentas geoespaciais baseadas em IA continuam a expandir o acesso à internet, como mostram as redes 5G da Rain na África do Sul e o BRCK no Quênia, garantindo conectividade digital para o crescimento econômico. Outro avanço crucial foi o recente anúncio da Cassava Technologies e da Nvidia, que vão estabelecer a primeira grande infraestrutura de computação para IA na África.

Isso é mais do que um marco tecnológico — é uma necessidade estratégica. Historicamente, a África exportou matéria-prima e importou produtos acabados. Não podemos repetir esse padrão com a IA: exportar dados e importar modelos prontos. Para evitar uma nova forma de colonialismo digital, a África precisa desenvolver sua própria capacidade computacional, garantindo que seus dados permaneçam no continente e beneficiem suas populações. A soberania de dados é essencial para a governança e mitigação de riscos. Com leis de proteção de dados mais rígidas globalmente, como a POPIA na África do Sul e o GDPR na Europa, o armazenamento local de dados é essencial para a conformidade.

Garantir que a África controle seu futuro em IA será um desafio estratégico, mas é necessário para garantir soberania e liberdade econômica a longo prazo — e para pôr fim a uma luta que continua.

A inovação em IA já floresce no continente. Mas investimentos em conectividade, energia e infraestrutura são cruciais para construir ecossistemas competitivos. Avanços algorítmicos, como os do modelo DeepSeek, mostram que o sucesso em IA não depende apenas de poder computacional, mas também de inovação. Ao alavancar essa criatividade e construir a infraestrutura necessária, a África pode transformar seu boom demográfico em uma oportunidade real de avançar para o futuro — um futuro que começou ontem.

Mike Mpanya é empreendedor africano e CEO da Nubi.

A perspectiva de Aida Ndiaye: O papel crucial da África na revolução da IA

Em 2023, um artigo viral do New York Times reiterou o que muitos especialistas em África já sabiam: até 2050, estima-se que 1 em cada 4 pessoas no mundo será africana. O crescimento demográfico do continente é iminente. Essa população jovem e crescente tem sido muitas vezes vista com ambivalência — alguns a consideram uma “bomba-relógio”, enquanto outros enxergam um “bônus demográfico”, uma vantagem competitiva a ser aproveitada.

A mudança demográfica da África não é a única onda global significativa — a IA também avança rapidamente, já sendo descrita como uma nova revolução. Embora o impacto da IA ainda esteja se desdobrando, seu potencial transformador é evidente. Estamos diante de uma tecnologia cujo impacto pode ser comparado ao da eletricidade ou da internet.

Hoje, essas duas ondas estão completamente desconectadas. A África está, em grande parte, ausente da corrida global pela IA. Nenhuma das grandes empresas líderes em IA é africana. O investimento de capital de risco em IA nos EUA chegou a quase 80 bilhões de dólares, em contraste com os valores significativamente menores investidos no continente africano.

Enquanto Índia e China já se posicionam estrategicamente no cenário global da IA, a África ainda enfrenta grandes desafios. É hora de uma visão ambiciosa e estratégica, que reconheça sua população em crescimento como um ativo central para desbloquear o poder transformador da IA.

O desenvolvimento da IA exige mão de obra qualificada em toda a sua cadeia de valor — desde a mineração e rotulagem de dados até engenheiros e cientistas que desenvolvem tecnologias. O talento africano pode preencher essa lacuna, o que é crucial não apenas para garantir a participação da África na corrida pela IA, mas também para assegurar que essa tecnologia reflita as necessidades e os interesses africanos, ajudando a resolver os desafios mais urgentes do continente.

Com líderes globais se reunindo na Cúpula Global de IA na África, o papel da juventude deve estar no centro. Jovens inovadores africanos precisam ser valorizados e apoiados. É hora de planos concretos para capacitar esses jovens e construir parcerias significativas com empresas globais de IA, garantindo que a África tenha não apenas um assento à mesa, mas também voz ativa nas decisões.

Aida Ndiaye é uma líder internacional de negócios com experiência em grandes projetos de tecnologia e estratégia organizacional na interseção entre tecnologia e políticas públicas.