
Os ecossistemas naturais da Gâmbia começam a dar sinais de recuperação após anos de degradação ambiental. Iniciativas de conservação lideradas por comunidades locais, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), já resultaram na proteção e restauração de 340 quilômetros quadrados de áreas costeiras, florestais e fluviais — o equivalente a quase 3% do território nacional.
O esforço, que alia preservação da biodiversidade à geração de empregos sustentáveis, vem transformando a relação entre as populações locais e os recursos naturais do país.Com ondas se formando à sua frente, um pequeno barco a motor corta o tranquilo Rio Gâmbia, com o barulho do motor ecoando por toda a via fluvial.
Leia a história publicada no site do UNEP
Com ondas se formando à sua frente, um pequeno barco a motor corta o tranquilo Rio Gâmbia, com o barulho do motor ecoando por toda a via fluvial.
O barco pertence à marinha gambiana e os três marinheiros a bordo estão em busca de redes de pesca ilegais. Essas redes, com aberturas muito pequenas, capturam peixes jovens antes que possam se reproduzir, esgotando os estoques e agravando a pobreza na Gâmbia — o menor país do continente africano — onde muitas comunidades dependem quase exclusivamente da pesca.

“É extremamente importante proteger os peixes juvenis, para que as futuras gerações ainda possam pescar nesta região”, diz o suboficial Sainey Ngum.
As patrulhas fazem parte de um amplo esforço de conservação que, nos últimos cinco anos, resultou na proteção e restauração de 340 km² de rios, costas e florestas na Gâmbia — quase 3% da área total do país. Com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), a iniciativa tem criado empregos, revertido anos de degradação ambiental e dado voz às comunidades locais na gestão da natureza ao seu redor.
“Este é um exemplo poderoso de como a ação nacional, impulsionada pela liderança comunitária e por políticas inovadoras, pode preservar a biodiversidade e criar um futuro melhor para as pessoas comuns”, afirma Emmanuel Adonsou, do PNUMA.
A Gâmbia ocupa uma estreita faixa de terra — em alguns trechos com apenas 25 km de largura — ao redor do Rio Gâmbia, um dos maiores da África Ocidental. Com cerca de 2,5 milhões de habitantes, distribuídos em um território menor que o Catar, é um dos países mais densamente povoados do continente.
Nos últimos anos, a crescente demanda por alimentos e recursos naturais aumentou a pressão sobre os ecossistemas do país. Áreas alagadas foram drenadas para agricultura, manguezais foram derrubados para lenha, e habitats animais foram fragmentados por estradas. Segundo Adonsou, isso causou a degradação das paisagens e a perda acelerada da biodiversidade, aprofundando a pobreza num país onde metade da população vive em situação de extrema vulnerabilidade.
Mas, com o apoio conjunto do PNUMA, do GEF e do governo gambiano, estão sendo implementadas iniciativas para equilibrar a conservação com as necessidades econômicas.
Desde 2020, o projeto forneceu dados para o governo central atualizar políticas de uso do solo e criar regulamentos de proteção ambiental. Com isso, foram criadas quatro áreas de conservação geridas por comunidades locais e uma área marinha protegida de 40 km² ao longo do Rio Allahein, próximo à fronteira com o Senegal — uma zona rica em biodiversidade.
A iniciativa está alinhada com os objetivos do Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal, um acordo internacional que busca conservar 30% das áreas costeiras e de água doce até 2030. Especialistas afirmam que o modelo gambiano — que une conservação com melhoria das condições de vida — pode servir de referência para aplicar esse marco global.
Equipes do projeto também apoiam a criação de um corredor de fauna silvestre gerido por comunidades, ligando áreas protegidas que abrigam espécies-chave, como hipopótamos, peixes-boi, macacos colobos vermelhos e diversas aves migratórias. A Gâmbia é um ponto estratégico na rota migratória de muitas espécies de aves.
Além disso, o projeto capacitou moradores e autoridades da região de Kuntaur (no centro do país) para a gestão sustentável dos recursos naturais. Às margens do rio, especialistas treinaram 16 mil pessoas no plantio e manejo sustentável de manguezais — que são abrigo para várias espécies aquáticas, como ostras, cultivadas principalmente por mulheres.
A marisqueira Fatou Jadama relata que o retorno dos manguezais fez a produção disparar: “Os manguezais têm muitos benefícios”, afirma.
Criar oportunidades econômicas para mulheres tem sido um eixo central do projeto. Além de apoiar marisqueiras, as equipes incentivaram hortas comunitárias e fontes alternativas de renda sustentável, como a apicultura.
Outro avanço foi a construção de um centro de justiça ambiental na vila de Wasu, onde são julgados suspeitos de pesca ilegal. Antes, os julgamentos ocorriam debaixo de uma árvore, conta o chefe comunitário Pierre Bah. O novo prédio, segundo ele, facilita a deliberação dos casos e o planejamento de projetos ambientais em benefício da comunidade.
Na comunidade de Lamin Koto, uma base naval foi construída com recursos do projeto. Segundo o suboficial Ngum, antes disso os marinheiros viviam em barracas, sofrendo com o calor tropical. Com a nova base, as patrulhas no Parque Nacional do Rio Gâmbia — antes um foco de pesca ilegal — foram intensificadas.