Por André Carlos Zorzi, Por dentro da África
Além de ter sido a única estreante na atual edição da CAN, a Guiné-Bissau também era a única representante lusófona presente no torneio.
Com uma equipe formada por atletas de clubes da Grécia, Espanha, Noruega, Turquia, Itália, Coréia do Sul e principalmente de equipes menores de Portugal, a expectativa era de que a equipe tivesse dificuldades diante de adversários mais experientes.
PREPARAÇÃO
Às vésperas do torneio, a equipe chegou a recusar-se a realizar alguns treinamentos por conta de uma suposta falta de pagamentos pela classificação por parte de dirigentes, problema que não ameaçou a participação dos “Djurtus”, como são conhecidos os jogadores.
Além disso, diversos atletas recusaram a convocação para o torneio, a maioria do futebol português: Gerso Fernandes (Belenenses), Vasco Fernandes (Vitória de Setúbal), Carlos Embalo-Abna (Palermo-Itália) e Jânio Biguel (NEC-Holanda). Além deles, Yazalde Pinto e Eliseu Cassamá, ambos do Rio Ave, haviam demonstrado interesse, mas também recusaram a participação posteriormente.
Muitos destes jogadores possuem dupla nacionalidade e ainda sonham em representar a seleção de Portugal, o que seria impossível após atuarem pela Guiné em um torneio oficial.
Exemplos para se espelharem não faltam: o atacante Éder, autor do gol do título português na última Eurocopa, é nascido na Guiné-Bissau, assim como Bruma, outro atleta que ja disputou partidas oficiais por Portugal, Edgar Ié, convocado para a disputa da Eurocopa sub-19, e Carlos Mané, presente no time português na última Olimpíada.
A CAMPANHA
O que se viu em campo, porém, foi um time valente e aguerrido que conseguiu resultados expressivos.
Logo em sua estreia, empatou no último minuto com o Gabão, time da casa, num estádio com toda a torcida contra, graças a um gol do zagueiro Juary Soares, após cobrança de falta.
Na segunda rodada, diante da sempre respeitada seleção camaronesa, o audacioso meia Piqueti arrancou com a bola de seu campo de defesa, efetuou belíssimos dribles e marcou um golaço, como há tempos não se via numa CAN, e que tem tudo para ser escolhido como o melhor do torneio em breve, já que dificilmente será superado.
Porém, na etapa complementar o time não soube administrar o resultado e a camisa camaronesa pesou, virando o placar do jogo.
Mesmo assim, a equipe chegou à última rodada da fase de grupos com chances reais de classificação. Com o empate na outra partida (disputada simultaneamente e findada em 0 x 0), bastaria aos guineenses vencer por qualquer placar para avançar. Porém, acabaram derrotados por 2 x 0.
FUTURO
Para a próxima edição do torneio, em 2019, a Guiné encontra-se no Grupo K das eliminatórias, ao lado da Zâmbia, equipe que já superou no último qualificatório, além de Moçambique e Namíbia.
Caso consiga manter a base da equipe, tem boas chances de se classificar como campeão do grupo, ou como um dos três melhores segundos colocados.
Confira abaixo os resultados da Guiné-Bissau na CAN 2017:
Guiné-Bissau 1 x 1 Gabão
Chutes (a gol):
11 (3) x 7 (3)
Posse de bola:
48% x 52%
Guiné-Bissau 1 x 2 Camarões
Chutes (a gol):
8 (4) x 17 (6)
Posse de bola:
42% x 58%
Guiné-Bissau 0 x 2 Burkina Faso
Chutes (a gol):
13 (3) x 7 (1)*
Posse de bola:
54% x 46%
*O outro gol de Burkina foi contra e não entrou nas estatísticas como chute a gol
LUSOFONIA
Com a participação da Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe se tornou o único país a jamais ter participado de uma CAN.
As melhores participações na história do torneio foram conquistadas por Angola (2008 e 2010) e Cabo Verde (2012 e 2013), quando chegaram às quartas de final do torneio. Moçambique e Guiné-Bissau, jamais avançaram da 1ª fase.
Veja como se saiu cada equipe lusófona nas Eliminatórias para a CAN 2017:
Cabo Verde: Vice-líder do Grupo F (classificou-se o Marrocos), com 9 pontos. Caso tivesse vencido a Líbia em casa, na última rodada, teria se classificado. Acabou perdendo por 1 x 0 e ficando de fora do torneio após duas participações consecutivas.
Moçambique: Vice-líder do Grupo H (classificou-se Gana), com 7 pontos. Entre os vice-líderes dos grupos, teve a segunda pior campanha, passando longe de uma vaga como melhor segundo colocado. Com uma campanha irregular, foi capaz de parar Gana (0 x 0), mas derrotas para a Ruanda em casa, e Ilhas Maurício, fora, fizeram com que não se classificassem.
Angola: 3ª colocada do Grupo B (classificou-se o Congo-Kinshasa) , com 5 pontos. Venceu apenas na estreia (junho de 2015), goleando a República Centro-Africana por 4 x 0.
São Tomé e Príncipe: Lanterna do grupo F (classificou-se o Marrocos), com 3 pontos. Conquistou histórica virada sobre a Líbia, em casa, por 2 x 1. Sofreu goleadas diante de Cabo Verde (7 x 1) e Líbia (4 x 0).
Confira abaixo o grupo das equipes lusófonas nas eliminatórias para a próxima CAN em 2019:
Grupo I: Angola, Burkina Faso, Botsuana e Mauritânia
Grupo K: Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Namíbia
Grupo L: Cabo Verde, Uganda, Tanzânia e Lesoto
São Tomé e Príncipe disputará a fase preliminar contra Madagascar. Caso avance, integrará o Grupo A, com Senegal, Guiné Equatorial e Sudão.
Relembre também a campanha da Guiné-Bissau nas Eliminatórias para a CAN 2017: http://www.pordentrodaafrica.com/noticias/guine-bissau-conquista-classificacao-inedita-para-a-copa-africana-de-nacoes