Por Roger Cipó, Olhar de um Cipó
Artigo compartilhado com os leitores do Por dentro da África
Entre 2015 e 2016 tive a oportunidade de estar, aprender e fotografar forças que fazem e mantêm viva a história do samba de São Paulo. Em celebração ao Dia Nacional do Samba, comemorado em 02 de dezembro, compartilho algumas dessas imagens. Sorrisos acolhedores, histórias de marejar os olhos e uma sabedoria que somente os grandes mestres possuem.
Leci Brandão da Silva nasceu e foi criada nas proximidades da Portela, Vila Isabel e Mangueira, redutos do samba carioca. É cantora, compositora e uma das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira. Sua carreira teve início no começo dos anos 70, quando se tornou a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da Mangueira.
Leci é uma artista versátil, como prova atuou na novela Xica da Silva na extinta TV Manchete, com a personagem Severina. Uma das mais importantes mulheres negras da história do Brasil e um dos grandes nomes do Samba, ela também é deputada estadual.
Seu Dadinho é considerado um dos fundadores da escola de samba Camisa Verde e Branco e conviveu com grandes baluartes como Seu Inocêncio no Camisa Verde, Pé Rachado da Vai-Vai, Seu Carlão do Peruche, Madrinha Eunice no Lavapés (primeira escola de samba de São Paulo, ainda em atividade) e Alberto Alves da Silva da Nenê de Vila Matilde.
Todas essas personalidades plantaram a semente do samba no estado de São Paulo. Ritmista e compositor de mão cheia, já coordenou a bateria da escola e escreveu canções como Peso da Tradição, Festa No Morro, Malandro Vacilão, Canto Pra Viver, Revelação, Eta Samba Bom.
Nascida em Araras, no interior paulista, Ignez Francisco da Silva, Dona Inah, é filha de músico. Aos nove anos já cantava nos bailes das fazendas da região e nas festas da cidade. Com menos de 20 anos, mudou-se para Santo André, onde venceu o concurso “Peneira Rodini”, que lhe abriu as portas para os clubes, bailes, orquestras e rádios, em especial a Rádio Record.
Em 2008, lançou o disco “Olha quem chega”, inteiramente dedicado à obra de Eduardo Gudin. Em 2010, Dona Inah esteve em Cuba, onde gravou 14 canções com músicos cubanos, cantadas em espanhol. Em 2011 participou do projeto “Damas do Samba”, em homenagem à Clara Nunes, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra e Dona Ivone Lara. Em 2013, lançou seu terceiro disco, “Fonte de Emoção”.
Nascido Osvaldo Barros, em 1940, Osvaldinho da Cuíca foi o primeiro Cidadão do Samba Paulistano, em 1974. Integrou o grupo Demônios da Garoa em três momentos. Fundador da ala dos compositores da Vai-Vai, teve seis sambas desfilados pela tradicional escola de samba do Bexiga. Três deles campeões, incluindo “Na Arca de Noel Quem Entrou Não Saiu Mais”, de 1978, que deu o primeiro título à escola. A alcunha Osvaldinho da Cuíca lhe foi dada na época em que participou do grupo do poeta Solano Trindade.
Maria Aparecida da Silva Trajano nasceu no dia 26 de novembro de 1940 em São Paulo. É filha de Maria Ercília da Silva Rosa e Otávio Henrique de Oliveira, conhecido como Blecaute, compositor de “General da Banda” (1949) entre muitos outros clássicos do carnaval de rua. Tia Cida ou Tia Cida dos Terreiros, é a mãe do lugar que ficou conhecido como o Berço do Samba de São Mateus, na zona leste de São Paulo.
Sua casa se tornou um tradicional reduto do samba por acolher músicos, sambistas e apaixonados pelo gênero que faziam e continuam a fazer grandes rodas de samba, tendo tia Cida como matriarca e referência. Tia Cida gravou seu primeiro disco aos 73 anos de idade com incentivo e produção do Quinteto em Branco e Preto, grupo que viu nascer nas rodas de samba de seu quintal.
O primeiro contato de Moisés da Rocha com o rádio foi em busca do sonho de ser cantor. O timbre de sua voz, no entanto, chamou a atenção para além da música que interpretava. Foi assim que Moisés da Rocha conseguiu o seu primeiro emprego como locutor. Como radialista, entre suas conquistas estão o pioneirismo na rádio FM com um programa totalmente dedicado ao samba. Chamado “O Samba Pede Passagem”, o programa foi ao ar pela primeira vez em 1978, na rádio Universidade de São Paulo FM.
O programa resgatou a força do gênero, abrindo caminho para muitos artistas. O “Samba Pede Passagem” representa um símbolo na luta pela valorização das raízes culturais afro-brasileiras, que atua por meio da música.
Dulcinéa Ribeiro é professora de Educação Musical e Expressão Corporal, cantora, relações públicas, diretora de ala e apresentadora de eventos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada em São Paulo, no bairro da Lapa, zona oeste. Militou por 9 anos da Escola de Samba Vai Vai a convite do padrinho, o sambista Geraldo Filme, e depois no Camisa Verde e Branco a convite do Sr. Carlos Alberto Tobias.
Foi dançarina e, depois, backing vocal do programa Show do Sargentelli na década de 70 e a única mulher a integrar o tradicional JB Samba. Foi eleita Cidadã Samba de São Paulo em 2005 por unanimidade, e agraciada com o título de Embaixatriz do Samba de São Paulo pela Embaixada do Samba Paulistano.
Carlos Alberto Caetano (Carlão do Peruche) nasceu no dia 11 de setembro de 1930 na região da Santa Cecília e Barra Funda, zona Oeste de São Paulo. Aproximou-se do samba quando conheceu a Lavapés, a mais antiga escola de samba paulistana ainda em funcionamento fundada por Madrinha Eunice. Foi lá que Seu Carlão tomou verdadeiro gosto pelo samba, liderou sambistas ainda adolescente e de onde saiu, em 1955, para formar sua própria agremiação, a Escola de Samba Unidos do Peruche, fundada em 1956 no bairro da Casa Verde.
Além de ser um personagem importante da história do samba paulista, condecorado Embaixador do Samba pela União das Escolas de Samba de São Paulo, Seu Carlão é um exímio contador de histórias. Como um griô ele carrega consigo a sabedoria de quem muito viveu e aprendeu com os mais velhos. Seu Carlão não só fundou a Peruche como militou e milita pela tradição do samba paulista.