“África ontem, hoje e amanhã”, por Patrício Batsîkama

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Por dentro da África, por Patrício Batsîkama 

Luanda, Angola – “Ontem” África foi tida como centro das grandes civilizações: o Nilo providenciou as civilizações de Kemet/Egipto (com as suas grandes pirâmides cujo primeiro arquitecto era Imhotep), Núbia e Kush (com as suas tumbas e pirâmides em adobos). As heranças egípcias estão presentes na Grécia antiga, na Roma e no Médio Oriente, e Núbia e Kuch é a ponto com relação a África negra.

Os outros rios deram outras civilizações: Niger providenciou: Nok, Bura e Saó que desde o século IV antes do Cristo e século IX depois do Cristo, vários reinos e impérios negro-africanos proporcionaram as populações que a Navegação europeia encontrou, brutalizou, escravizou ou animalizou para depois colonizar. Como se os africanos fossem mesmo bárbaros. O mesmo terá acontecido com o rio Zambeze, onde ainda falamos de “Great Zimbabwe”. Os rios Zaire e Kwânza deram importantes culturas na África Central Ocidental: Kôngo, Lûnda/Côkwe, Umbûndu, antes do século X e, depois do século XV, os reinos de Ndôngo, de Benguela, etc.

Hoje – depois de uma colonização que semeou a autodestruição dos Africanos – assistimos a uma África passiva, sem iniciativa e que sempre depende do outro. De ponto de vista social, África está muito mal. Os Estados africanos ainda não parecem conseguir resolver as makas da “fome” que assolam o continente, transformando os Africanos em “pedintes”. As universidades ainda não são suficientemente capacitadas de excelência competitiva: Homem africano ainda é pobre. De ponto de vista da economia, os Africanos ainda têm o apetite de gastar o que não têm, endividando-se continuamente e hipotecando as “riquezas escassas que o solo tem”. Em termo da cultura, ainda não demos conta das reservas culturais que possuímos, de maneira de fazer desta “cultura” como um produto lucrativo e rentável e que pode “encher” os cofres do Estado com “turismo cultural”.

Curiosamente emprobrecemos cada vez mais: nos orçamentos de Estado dos países africanos, uns dão mínima importância, e outros colocam a “Cultura” como a última das atenções. Politicamente, tudo ainda parece embaralhado: as repúblicas africanas ainda têm problema de criar “Estado-nação”, de domesticar a democracia e gerir o respeito humano, têm mostrado certo descumprimento das leis (ou tudo que for estabelecido), mostram deficiências graves no domínio do jogo político que criam, ignoram a gestão social das forças humanas e organizacionais e ainda lutam para se desfazerem das sequelas da corrupção, senão enculturalizá-la como forma de legitimá-la, etc.

O “amanhã” de África ainda está numa equação por resolver. Mas depende de “Hoje” e de nós, actores presentes. Os projectos dos Estados africanos – baseado nos programas dos vencedores das eleições – perspectivam resolver até 2017 os seguintes problemas: (i) pobreza; (ii) analfabetismo; (iii) formação qualificada; (iv) desemprego; (v) desenvolvimento humano; (vi) industrialização; (vii) criação de cidades ou centralidades; (viii) criação de centro de excelências a todos níveis (política, económica, financeira, etc.); (ix) integração dos blocos regionais (SADC; CEDEAO; etc.); (x) criar riquezas e enriquecer o capital humano.

Será necessário acreditar nos bons resultados? Ou necessitamos de um pessimismo conjectural para exercer pressão aos Estados para melhor fazer? Qual será o papel da sociedade civil? Essa é a reflexão que solicito aos Africanos neste dia de África do ano 2013.

O angolano Patrício Batsikama é historiador, filósofo e doutorando em antropologia pela Universidade Fernando Pessoa, em Portugal.

Por dentro da África