Natalia da Luz, Por dentro da África
Durban – Preservar, conscientizar e compartilhar os benefícios do turismo com a população local são alguns dos propósitos do ecoturismo, que vem ganhando mais adeptos a cada dia. A Organização Mundial de Turismo estima que 10% dos turistas em todo o mundo tenham como preferência um destino ecológico. A Wilderness Safaris, conhecida hoje como uma das maiores operadoras de ecoturismo da África, foi fundada em 1983 com a ideia de criar jornadas e oferecer uma experiência imersiva. Hoje, a empresa desenvolve programas em oito países africanos.
-Viajar pela África é uma experiência muito rica. Há lugares e hotéis incríveis. Não importa aonde você for, você terá uma experiência maravilhosa. Então, desde o início, pensávamos em causas, em propósitos que pudessem fazer desse encontro uma vivência para envolver e beneficiar a todos. Isso não era sobre oferecer a melhor bebida, a melhor comida. Era sobre algo mais profundo e responsável – disse, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, Chris Roche, diretor de Marketing da Wilderness Safaris.
Segundo a Embratur, o ecoturismo é um segmento de atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. Na indústria do turismo, o ecoturismo é o segmento que mais cresce no mundo. Enquanto o turismo convencional cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo cresce entre 15 a 25% por ano.
Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução histórica reconhecendo o ecoturismo como fundamental para combater a pobreza, protegendo o ambiente e estimulando o desenvolvimento sustentável. A resolução, intitulada “Promoção do ecoturismo para a erradicação da pobreza e proteção ambiental”, convoca os membros das Nações Unidas a adotar políticas que promovam o ecoturismo, ressaltando seus “efeitos positivos sobre a geração de renda, criação de emprego, educação e, consequentemente, na luta contra a pobreza e a fome “.
Em 2,5 milhões de hectares de vida selvagem, a Wilderness, que nasceu em Botsuana, oferece 50 campos de luxo e safaris em países como Quênia, Namíbia, Ruanda, Seychelles, África do Sul, Zâmbia e Zimbabwe. Chris lembra que, nos pilares da empresa, estão os 4Cs (que, em português, significam negócios, conservação, comunidade e cultura). O primeiro C (commerce) seria o responsável por dar as condições para manter os outros 3 sem comprometer os princípios ambientais.
Os campos preservam a biodiversidade, repartindo benefícios com as populações rurais para gerenciar, por exemplo, acampamentos que emitam a menor quantidade de gases de efeito estufa possível. A ideia é provocar não apenas o menor impacto, mas gerar condições para amenizar os problemas locais e estimular o desenvolvimento.
– As pessoas são o coração do nosso negócio. Nós acreditamos em relações mutuamente benéficas e dignas. Em uma de nossas ações, alguns de nossos campos são fechados para hospedarmos crianças carentes de comunidades vizinhas para um programa que combina vida selvagem, consciência ambiental, saúde e educação – listou Chris, durante o nosso encontro na Indaba (maior feira de turismo da África, realizada em maio passado em Durban).
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14 razões para acreditar
Na cartilha do ecoturismo, as atividades culturais dependem de cada país, já que elas devem garantir a autenticidade e a aprendizagem, evitando, assim, a exploração ou mercantilização. Chris conta que a iniciativa “14 razões para acreditar” é um modelo de negócio dedicado a projetos que provam que é possível conservar.
– São projetos que envolvem, por exemplo, ações de reflorestamento em Ruanda, conservação de rinocerontes negros e brancos em Botsuana, reabilitação de ilhas de Seychelles… Esses programas começam e não têm data para terminar. É a manutenção deles que importa e, consequentemente, a transformação na vida dos visitantes, da comunidade e a preservação da biodiversidade da região – explica o sul-africano que ajudou a idealizar os programas e a levar mais de 40 mil visitantes para a África.
Preservação x caça
O turismo é o principal produto de exportação para muitos países africanos por contribuir para o desenvolvimento socio-econômico. Por outro lado, a vida selvagem na África enfrenta uma de suas maiores crises com massacres de animais que deveriam ser protegidos.
De acordo com o Secretariado da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies em Risco da Flora e Fauna Selvagens (CITES), entre 2010 e 2012, cerca de 100 mil elefantes foram mortos em decorrência da busca por marfim. Além de serem vítimas do ainda ‘alarmantemente intenso’ tráfico de suas presas, elefantes têm se tornado alvos mais frequentes da caça ilegal.
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Uma das maiores vítimas da caça ilegal na África é o rinoceronte. Apenas em 2014, de acordo com a ONU, um rinoceronte foi morto a cada oito horas. Estima-se que a venda de seus chifres tenha alcançado entre 63 e 192 milhões de dólares. Este é um dos exemplos que mostra como o comércio ilegal de animais selvagens degrada os sistemas ecológicos, mina a capacidade de um país de controlar esta caça e como o tráfico ilícito dificulta os esforços das comunidades rurais que lutam para administrar seus recursos naturais de maneira mais sustentável.
-A conscientização é a peça-chave disso tudo. Não queremos que a pessoa, simplesmente, se hospede em um lodge luxuoso, queremos que ela use essa possibilidade para vivenciar com responsabilidade.
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