Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio – A moda que abriga influências africanas ganha espaço nas passarelas do mundo inteiro, mas não apenas isso: estilistas, modelos e artistas africanos também ganham destaque. As cores, tecidos e texturas contam histórias de um continente diversificado, propagado por personalidades como a estilista senegalesa Adama Paris. Há 12 anos, ela fundou a Dakar Fashion Week, uma fonte de exposição da moda de toda a África Ocidental que cresce a cada ano.
– Eu acho que a identidade africana é um aspecto importante da nossa moda. A nossa cultura tem essa paixão pela textura, pela forma, pela cor, por tudo aquilo que é vibrante e precisa ser mostrado – conta, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, Adama Paris.
Filha de diplomatas senegaleses, Adama, nascida em Kinshasa (República Democrática do Congo), estudou na França, mas baseou a sua sede “fashion” em Dakar, capital do Senegal, depois de deixar uma carreira bancária na Europa. Em 2012, o décimo ano do desfile, atraiu trinta estilistas de nove países da África.
O sucesso de Adama levou-a para encontros de moda em diferentes cidades, como Paris e Nova Iorque, onde ela se deparou com uma realidade que a chocou: a ausência de modelos negros. Foi quando, no ano de 2010, ela decidiu criar o Black Fashion Week, que já foi realizado em Genebra, Paris, Montreal e Bahia.
– Eu fiquei mal em ver tantas loiras e não negras no mesmo caminho. Era muito desigual e precisava ser mudado – contou Adama, destacando que essa ausência foi o motor para o seu grito ao mundo contra a discriminação e o racismo nas passarelas, repletas de loiras.
A estilista queria compartilhar a paixão, queria mostrar e promover não só a moda, mas o profissional negro na moda mundial. Certamente, ela abriu uma porta que parecia inacessível para os estilistas, artistas e modelos negros.
Black is beautiful “Preto é lindo”
Durante a nossa entrevista, Adama lembrou o slogan de “Black is beautiful” para destacar a importância de valorizar o negro, fazendo referência ao movimento cultural que começou nos Estados Unidos em 1960 por afro-americanos. Ele se espalhou para grande parte do mundo negro, principalmente no Movimento da Consciência Negra de Steve Biko, na África do Sul.
“Black is beautiful” tinha como intenção enaltecer as características naturais das pessoas negras, como a cor da pele, características faciais e o cabelo. Esse movimento procurou contrapor a ideia predominante na cultura americana, que apresenta os “negros” como menos atraentes ou desejáveis do que os “brancos”.
Traço cultural na moda
Os tecidos (a forma de vesti-los, amarrá-los e compô-los) falam sobre a cultura, sobre os costumes, auto-afirmação. Desde o primeiro desfile, Adama descobriu a necessidade de expor e respeitar a história do continente africano.
– Quando eu desenho, eu penso na mulher independente, eu me sinto uma mediadora multicultural entre a África e o resto do mundo. Eu quero mostrar a moda africana da maneira que eu vejo. Como designer, eu tento contar uma história com a coleção, tento falar sobre a cultura, sobre amor, ou simplesmente destacar aquela textura – ressaltou a estilista.
Afrobikini
Entre as mais variadas peças do vestuário, como acessórios, bolsas e calçados, um produto se destaca: o afrobikini, que Adama elege como o maior sucesso de sua recente coleção. As peças são absolutamente originais e vibrantes.
– O afrobikini é um sucesso! As pessoas adoram! Eu realmente não posso dizer quanto eu vendo para o mundo porque é muito! A cada dois meses, oferecemos uma nova remessa da coleção para as lojas que viram o sucesso – disse a estilista, completando que, com o afrobikini, a sua intenção era de que a mulher se sentisse feminina e sexy!
Yves Saint Laurent influenciado pela moda africana
Nascido na Argélia, norte da África, St. Laurent era filho do presidente de uma companhia de seguros e seu gosto pela moda lhe foi despertado pela mãe. Aos 17 anos, deixou a casa dos pais para trabalhar com o estilista Christian Dior, de quem herdou o controle criativo da casa Dior, após a morte de seu mentor em 1957. Com apenas 21 anos de idade, Yves assumiu o desafio de salvar o negócio da ruína financeira.
Yves foi diretamente influenciado pela moda africana, principalmente marroquina, país onde ele mantinha uma casa e o Jardim Majorelle, projetado pelo artista francês Jacques Majorelle. Desde 1980, o jardim havia se tornado propriedade de Yves Saint-Laurent e Pierre Bergé. Depois que Laurent morreu, em 2008, suas cinzas foram espalhadas no Jardim Majorelle.
Centro da Moda na África
Durante a Semana de Moda de Johanesburgo, na África do Sul, o maior evento de moda do continente, estilistas mostram, anualmente, o seu talento para o mundo.
Para Adama, a África do Sul, Nigéria, Gana, Marrocos e Senegal são alguns dos maiores pólos de moda de toda a África, mas a África do Sul ainda é o principal país africano que investe nesse setor. A valorização da moda africana, que ganha as passarelas do mundo, contribui para a exposição positiva do continente. Embora existam, atualmente, canais dedicados à moda, Adama explica que eles não mostram bastante inspiração africana que contemple grande parte dos países africanos.
– Eu quero que as pessoas vejam que temos grandes estilistas, e é isso que eu vou mostrar. Africanos vestindo roupas africanas!
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