Por Robson da Silva Lopes, Por dentro da África
Curso: Pós- Graduação em História da Cultura Afro- Brasileira – FANAN – Faculdade de Nanuque, Minas Gerais
Resumo
O presente artigo consiste em uma breve reflexão sobre a atuação do movimento negro no Brasil, suas lutas e conquistas ao longo dos séculos, tendo como enfoque principal os embates para a construção de um processo educacional que além de equânime, seja capaz de propagar a necessidade de após a revisão da história oficial, a promulgação da valoração da cultura Afro-brasileira e da inserção do negro, junto aos diversos setores que compõem a sociedade, com vistas a garantir o acesso equânime e corrigir as disparidades há séculos existentes e propagadas pelo racismo latente que impera o surgimento de uma sociedade paritária.
Nessa ótica o movimento negro é elencado como sujeito político, com uma trajetória histórica extremamente importante e capaz de mediante as ações afirmativas, a ação do próprio movimento e suas multifacetadas representações brasileiras, de promulgar essa fomentação. Pois, mesmo que tardiamente, as bases para uma sociedade igualitária e não excludente estão sendo postas ao lume e quiçá um dia o Brasil seja efetivamente um País livre de racismo e de toda forma de preconceito. Sendo assim, aqui estão expostas algumas linhas que corroboram com essa afirmativa e onde se buscou listar quais foram os avanços e conquistas do movimento negro brasileiro.
Introdução
Com o advento dos direitos humanos, cada vez mais, o cenário instaurado no Brasil e também a nível global, traz a luz a concepção de que da necessidade de luta contra toda e qualquer forma de racismo, de heterorregulação/sexismo, de exclusão social e de quaisquer formas que extirpem os direitos de muitos em prol de uma minoria opressora. Pois, com a opulência dos mecanismos gerenciais capitalistas, o que antes era feito em esferas microscópicas quando na luta pela igualdade de direito e aborto de práticas excludentes, passa agora a romper fronteiras e se torna uma necessidade transnacionalizada, uma vez que foge ao escopo de indivíduo e abrange agora grupos maiores que por vezes adquirem caráter de nação. Com isso, mediante a coletividade e abrangência dessa militância, buscar-se-á mitigar os efeitos nefastos, das impressões maquinistas, causadas pela segregação de pessoas. Buscar-se-á suprimir o apartheid que as práticas racistas possam exprimir entre os seres humanos.
Segundo essa premissa, com vistas a nutrir a ótica de um mundo menos excludente, racista e preconceituoso, é que se têm por pilar que eventos com cunho sócio-político como o Fórum Social Mundial, são não só pioneiros na busca pela extirpação desse cenário, mais são capazes de nutrir um cenário de articulação, construção conjunta e, sobretudo de diálogo entre as nações com vistas a construir um ideal de sociedade mais paritária e equânime, quiçá menos capitalista e mais humanitária. Para tanto, não só o supracitado Fórum, mas, a própria educação é um campo promissor e extremamente fecundo onde podem ser semeados os debates e o fomento de ideias que culminarão assertivamente, na sociedade mais equalizada que se espera por advento.
Não só no Brasil, mas, principalmente por aqui, a educação ainda continua se configurando como um dos campos germinativos mais fecundos dos ideários de luta dos movimentos sociais e a partir dela, muitas conquistas podem ser alcançadas, com vistas à supressão das diferenças e maior equiparação social. Pois, os movimentos que se processam dentro das escolas com a aplicação do conteúdo programático escolar, mais a articulação desse mecanismo social com os movimentos sociais, políticos, culturais e até religioso promovem a efetivação de uma pungência humana que busca lutar contra tudo o que pode ser opressor e excludente. Pois, é notoriamente sabido que aquele que possui um arcabuz teórico-prático-educativo, não se dobra facilmente ao algoz do opressor. Pois, sob o lumiar do saber, luta contra o breu da segregação. Sendo assim, as escolas nutrem o povo de tal forma que ele, ciente de sua capacidade, de seus direitos, de seus deveres e de sua cidadania, deixa de ser massa de manobra e passa a ser o manobrista de seu porvir e gerente de sua vida, na luta pela igualdade.
A educação é notadamente a mais hasteada bandeira dos movimentos sociais progressistas. Pois, quanto mais consciente for os componentes da população, menores serão as incidências de práticas opressivas e discriminatórias e maiores serão o respeito e a valoração dos diferentes agentes que compõem a gama multifacetada dos grupos etnicorraciais e sociais que a compõem.
Em virtude do pressuposto, buscar-se-á aqui, analisar de forma critica e também criteriosa, como as várias organizações negras no Brasil, têm ao longo da história, em mais específico, do século XX, construído demandas educacionais especificas. Além disso, buscar-se-á aferir, como os múltiplos saberes produzidos e acumulados, a própria opressão do negro quando da ação escravista ao longo do processo de colonização, como a ação deturpadora de imagem promulgada pelo racismo explicita ou implicitamente, têm impregnado as lutas por uma educação mais libertadora e menos excludente do negro no País e, quais têm sido os avanços e retrocessos, as principais indagações e também por que não, os principais ganhos do movimento negro em especial, no que tange a educação perante a sociedade brasileira.
Ações do movimento negro em prol da educação do Brasil
No Brasil, as ações do movimento negro, por meio das suas mais diversas entidades, têm sido pautadas por uma intensa e aguçada perspectiva educacional, que se explicitam nas diversas ações pró-educação, nos diversos projetos e também nas mais diversificadas propostas que visam ofertar ao negro brasileiro o acesso e permanência na educação. E, pode-se dizer que o movimento negro têm se destacado no cenário brasileiro como o sujeito político cujas reivindicações têm conseguido impactar e também influenciar o governo brasileiro em vistas à garantia de direitos, como bem pode ser visto na lei de cotas, conforme preconiza a Lei Federal 12.711/2012, que têm garantido o acesso do negro às universidades Brasil a fora.
Em nível de País, o movimento negro contemporâneo, não só enquanto movimento social, mas também enquanto movimento político, emerge a partir da década de 1970 e a partir daí começa a fomentar o direito de equidade entre brancos e negros na busca de uma sociedade brasileira mais equânime baseada principalmente no acesso à educação (um dos direitos básicos segundo a Constituição Federal de 1988).
Segundo Sader (1988) o movimento negro pode ser entendido como uma coletividade onde são elaboradas identidades, onde se promulgam práticas através das quais são alicerçados e defendidos interesses, campo onde se expressam vontades, se constituem e reconstituem identidades, onde há interações e reconhecimentos recíprocos, em um ambiente social com uma composição mutável, intercambiável e coletiva. Sendo assim, pode-se afirmar, mediante essa concepção que enquanto movimento e ao mesmo tempo sujeito político, o movimento negro se veste de carcás, é capaz de produzir um discurso capaz de reordenar enunciados, já desde outrora propagados como legítimos, como é o caso da falaz superioridade ariana, além de, nomear, resignificar aspirações difusas entre suas partes e mediante sua capacidade articuladora, reconhecerem-se como entes capazes de darem-se novos significados e, dotarem-se de importância, enquanto agentes fazedores de suas próprias histórias. Dirimindo todas as interpretações antagônicas e antônimas de forma a suprimir os conflitos e a partir de um novo cenário fazer um novo e cônscio cidadão.
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Por dentro da África