Por dentro da África
Nesta sexta-feira (9/12), o campus Malês da Universidade da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) formou a sua primeira turma do curso de Humanidades. A diversidade e a riqueza cultural marcam o grupo composto por estudantes do Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.
A Unilab nasceu baseada nos princípios de cooperação solidária. Em parceria com outros países, principalmente africanos, a Unilab desenvolve formas de crescimento econômico, político e social entre os estudantes. Em 20 de julho de 2010, o então presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei nº 12.289 instituindo a universidade. A frente do campus, está Matilde Ribeiro, ex-ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial durante o governo do ex-presidente Lula, que participou ativamente da implementação da UNILAB nos estados da Bahia e Ceará.
Leia os depoimentos de alunos e professores da universidade de São Francisco do Conde (Bahia) neste momento histórico.
“Estar na UINLAB é uma das mais belas escolhas que já fiz na minha. Nunca imaginei que encontraria tanta diversidade num só lugar. A UNILAB representa uma parte da humanidade que este mundo de infinitos sofrimentos e desigualdades precisa. Aqui, construímos os nossos saberes e identidades. Durante todo o curso e convência com colegas, debatemos sobre vários assuntos, muitos dos quais lembrarei e usarei constantemente em toda minha vida. Hoje, precisamos de mais UNILABs não só aqui no Brasil, mas em toda parte do mundo.” Agostinho da Silva, Guiné-Bissau
Saiba mais sobre o podcast Vozes da UNILAB
“Neste momento de tantos ataques para o desmonte das conquistas e avanços sociais dos últimos dez anos na área da educação e, em particular no ensino superior no Brasil a formatura desta primeira turma do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades representa a capacidade de trabalho, resistência e realização, que marcam a continuidade de um processo fruto de muitas lutas. Os desafios enfrentados por estes jovens estudantes (hoje bacharéis em humanidades), bem como pelos docentes e técnicos/as administrativos na condição de pioneiros não nos distanciaram de nosso objetivo que era manter e consolidar as atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão com responsabilidade e qualidade. Desta forma, esta formatura significa um ciclo na formação acadêmica e profissional de qualidade que não se encerra, pois é contínua. Ademais, considero que este momento expressa também a possibilidade real de ultrapassar e circular as fronteiras sociais, culturais, raciais e territórios que nos foram convencionadas historicamente. Representa ainda que somos capazes de produzir conhecimentos e estratégias políticas na perspectiva de construir a integração”. Cristiane Santos Souza, professora de antropologia
“Nestes quase dois anos que estou na UNILAB tive experiências diversas. A formação desta primeira turma é um momento super especial para nós professores. Como bem sabemos, a UNILAB é ainda muito jovem. Consequentemente, tem inúmeros desafios pela frente. Cada aluna e cada aluno que se forma agora é, para mim, a concretização de um trabalho feito com muitas mãos e muitas cabeças! Cabeças com tranças, com dreads, com black power, cabeças carecas. Ser professor na Unilab, com alunos africanos e brasileiros com experiências de vida complemente diversificadas é algo raro. Cada aula, cada trimestre ou semestre a gente tenta ensinar várias coisas, mas no final quem aprende somos nós. Falo isso de coração. Lembro que uma de minhas primeiras aulas na Unilab notei o óbvio: quase 100% de alunos negros! Nas demais universidades em que havia trabalhado contava nos dedos os alunos negros. Trata-se muito mais do que uma carreira. Trata-se da vida. Trata-se do compromisso com um futuro que está ai, aberto, grávido, solar”. – Marcio Andre, professor de ciências políticas
“Trabalhar na Unilab foi a realização de um sonho que eu nem sabia que sonhava… Como todo sonho é intangível, parece inatingível e requer de nós muito empenho, é na labuta do cotidiano que ele se faz corpo… Tem sido muito tenso e intenso, mas profundamente gratificante fazer parte desta comunidade. Em nenhum lugar se chega “sendo professor/a”, quem assim o faz frequentemente não consegue comunicar e pouco ensina de fato, porque não está disposto/a a aprender, mas na Unilab, isso é um imperativo, você pode ter anos de experiência docente, aqui será preciso começar de novo, todos os dias. É uma universidade do encontro e do reencontro com um passado presente, com o desejo de um futuro diferente. Um novo jeito de se construir o conhecimento. Tenho rido muito e chorado um bocado, de alegria, de medo, de emoções diversas. Quando se olha mais de perto essa proposta de integração e como ela foi pensada, vemos que ainda que seja bastante problemática (visto que privilegiou a lusofonia e isso é fator complicado), ela é muito potente! Precisamos assumi-la e cultivá-la. As/os formandas/os, na sua grande maioria de jovens negras/os, muitas mulheres, apresentaram excelentes trabalhos de conclusão de curso, deixando-nos orgulhosos, um orgulho que deve ser expandido para a toda a sociedade brasileira e dos países parceiros.” Elizia Ferreira, professora de filosofia
“A formatura da primeira turma do curso de Bacharelado em Humanidades é um momento de grande alegria, no sentido o mais “espinosista” do termo, se me permitem o gracejo filosófico. Temos uma missão compartilhada por qualquer profissional da educação, mas com uma singularidade: trabalhar em uma instituição que se propõe a si e aos outros ser diferente, na maneira de pensar e praticar os saberes, nas humanidades e para além da disciplinaridade herdada daquilo que se chama de modernidade/colonialidade/raci